segunda-feira, 29 de setembro de 2008

A mordaça do analfabetismo

Em pleno século XXI e mesmo depois de avanços visíveis na área do ensino o Brasil ainda segue às voltas com uma espécie de mordaça cognitiva.

A constatação de que, em pleno século 21 e mesmo depois de avanços visíveis na área do ensino, o Brasil segue às voltas com uma espécie de mordaça cognitiva, como definiu nesta semana o jornalista e professor José Marques de Melo, deixa evidente o quanto o país ainda precisa avançar para garantir qualidade no aprendizado.

A conseqüência do problema, atribuída durante debate na Academia Brasileira de Letras (ABL), no Rio de Janeiro, à falta de acesso à leitura, seria uma espécie de raquitismo da cidadania, na avaliação do especialista. Recém divulgados, os resultados da Síntese de Indicadores Sociais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) confirmam a gravidade da questão: do universo entre 7 e 14 anos que freqüenta a escola, nada menos de 2,1 milhões continuam analfabetos, demonstrando que a escola não está conseguindo cumprir integralmente seu papel.

O fenômeno não é recente e vem sendo quantificado há algum tempo por diferentes levantamentos. Dados do Instituto Paulo Montenegro, do Ibope, por exemplo, revelam que nada menos de 38% dos brasileiros entre 15 e 64 anos são analfabetos funcionais. Isso significa que não conseguem sequer localizar informações em textos um pouco mais longos, muito menos interpretá-los. O agravante é que esses são os familiares de crianças que freqüentam escolas da rede pública no Brasil e que precisam ser alfabetizadas até os oito anos de idade.

Como advertiu o especialista na área de comunicações, a incapacidade de leitura tem conseqüências que não se limitam a dificuldades triviais mas importantes do cotidiano, pois interferem até mesmo na cidadania. Quem não aprende a ler ou a escrever de forma adequada dificilmente terá condições de assimilar bem outros conteúdos relevantes para quem passou pela escola e, algum dia, poderá precisar deles na vida pessoal ou profissional. Isso explica o fato de que, no Brasil, menos de um terço dos alunos da quarta série do Ensino Fundamental sabe o conteúdo da língua portuguesa e pouco mais de 20%, o de matemática.

Conseqüências como essas reforçam a importância de avaliações como a chamada Provinha Brasil, cujo objetivo é justamente medir a alfabetização de alunos até os oito anos. Até recentemente, as escolas da rede pública ainda ofereciam um ensino de qualidade, mas com acesso limitado a poucas pessoas. A democratização fez com que, mesmo numa velocidade inferior à necessária, o país conseguisse praticamente universalizar o acesso ao Ensino Fundamental. O problema ainda à espera de saídas, e urgentes, é que essa verdadeira revolução não foi acompanhada da preocupação com a qualidade. Enquanto não superar esse entrave, o país manterá amordaçado, como definiu o especialista em comunicação, esse contingente expressivo que vive à margem da cultura letrada.