Se você está se preparando para a folia de Momo, o melhor que faz é cair
no samba. Epa! Aqui no Brasil, quando o assunto é Carnaval, já não se
pode mais falar assim – taxativamente – cair no samba. A nossa maior
festa popular tem diversos sons predominantes nas várias regiões para
animar os foliões: no Rio, o samba; em Pernambuco, o frevo e o maracatu;
na Bahia, o Axé; e por aí afora.
Mas se você quer saber um pouco sobre a história do Carnaval então se
prepare para a primeira surpresa: ele não é, como muita gente pensa,
genuinamente brasileiro. Esse pensamento pode até ocorrer porque foi
aqui que ele ganhou a maior dimensão no mundo e tornou-se, além de uma
festa popular, um produto de exportação que atrai em cada início de ano
milhares de turistas para os espetáculos do Rio, São Paulo, Salvador e
Recife, principalmente.
Mas o caminho até nossos dias foi longo e com muita meleca e muito
líquido. Para a sua origem, muitos estudiosos buscam as mais variadas
datas, referências e locais e quase nunca estão de acordo. Uns dizem ter
remotos 10 mil anos (nos rituais festivos por boas lavouras). Outros
menos, aí por uns seis mil anos, no Egito, em intenção à deusa Ísis. No
mundo greco-romano o proto-caranaval conheceu a introdução da bebida e
do sexo, segundo alguns autores. Em Roma, aconteciam bacanais, saturnais
e lupercais, festejando também deuses pagãos como Baco, Saturno e Pã.
E quando o Carnaval chegou ao Brasil, você já deve estar se perguntando.
A nós, é isso que interessa. Claro que sim. Por aqui, a data mais
aceita como a da sua chegada é 1723, trazido pelos portugueses das ilhas
da Madeira, Açores e Cabo Verde. E veja só: não era ainda o carnaval
como o conhecemos hoje. E por isso não tinha ainda esse nome.
Conheciam-no por...Entrudo! cuja palavra vem do latim introitus e se
refere às solenidades litúrgicas da Quaresma.
Vá lá, cada tempo com o seu evento. E a animação? Pensa você que já era
assim blocos, escolas de samba, trio-elétrico, essa sofisticação toda?
Não e não! Alegria havia, claro que sim. Mas a brincadeira no entrudo
compunha-se de correrias desenfreadas, muita melança com farinha e água
com limão. Praticamente pouco mudou até quase a metade do século XIX,
constituindo-se a festa de muita meleira e molhação. Os escravos eram
animados na folia e polvilhavam-se uns aos outros e esguichavam água
pelas ruas com uma enorme bisnaga de lata. Os senhores da alta sociedade
segregavam essa festa da rua, preferindo o refúgio de suas casas para a
brincadeira com, entre outras coisas, as laranjinhas – bolas de ceras
que quando se espatifavam lançavam água perfumada. Mas também veja só:
nem sempre eram educados os tais senhores, pois jogavam em quem passava
na rua um líquido fétido (você pode adivinhar qual é? Eu, hem?!) Passar
debaixo de uma janela nesse período era banho certo, por isso a
movimentação nas ruas era pequena. No Primeiro Império o sucesso para a
elite governante eram os bailes de máscaras, que a partir da década de
1840 popularizou-se.
No final do século XIX surgiram os primeiros blocos de carnaval e os
famosos corsos. A festa começou a tomar a feição que tem hoje. Já era
comum as pessoas se fantasiarem, e no início do século XX ganharem as
ruas fantasiadas e com os carros enfeitados. Alguns sugerem que aí
nasceu a idéia do carro alegórico – item obrigatório nos desfiles das
escolas de samba. A introdução das marchinhas de carnaval no início do
século XX deixou-o muito mais animado e fortaleceu o seu crescimento. No
Rio, a primeira escola de samba foi a Deixa Falar, criada por Ismael
Silva em 1928, no bairro do Estácio. No início dos desfiles, em 1932, as
escolas percorriam as ruas acompanhadas de populares. Mas em 1935, a
disputa passou a ser para valer. Hoje o carnaval cresceu tanto e de tal
forma virou um produto comercial que temos até os carnavais fora de
época. Acontecem Brasil afora em muitas cidades e capitais. Foi por
influência da micareta baiana que o carnaval fora de época proliferou.
Para ficar todo mundo ciente da universalidade do carnaval, em
Araguaína, além da tradicional folia de Momo, em fevereiro ou março, os
foliões se animam no Arafolia, que sempre acontece em agosto ou
setembro.